sexta-feira, 26 de novembro de 2010

domingo, 21 de novembro de 2010

A higienização dos estádios e a resistência baiana

Texto originalmente postado no blog de Lúcio de Castro, grande jornalista da ESPN, que com certeza não se importará de ter seu texto postado aqui.

Obs: recomendamos aos rubro-negros desconsiderarem o comentário sobre o Barradão (hehe).



“Sob a lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem”. Não acho meu velho exemplar de “Capitães da Areia”, (Jorge Amado). Mas o livro marcou minha infância e tenho certeza de que a abertura é por aí. Salvador já havia entrado em minha vida com força e virado uma paixão. “Capitães da Areia” foi o tiro de misericórdia para reforçar esses laços tão fortes. As férias familiares na infância, a hospitalidade incomparável de gente boa, aquelas ruas, praias, mas acima de tudo, aquela gente...

Como já disse no texto em que me apresento nessa trincheirinha, gosto acima de tudo de gente. Gosto demais da minha cidade, parte de minha identidade. Fiquei tranquilo no dia em que vi Ariano Suassuna dizer que não gostava muito de viajar, apesar do espanto que dizer isso causa nas pessoas. Estava em boa companhia. Gosto mesmo é de ficar no meu escritório jogando conversa fora.

Mas apesar disso tudo ser cada vez mais forte em minha vida, Salvador tem os ingredientes que me fazem sentir quase em casa. Esse cultivo pela boa resenha, pelo não fazer nada, por jogar conversa fora...Por aqui, como em minhas andanças cotidianas, flanando por aí, também não me sinto um ET ao entrar nos lugares de chinelo, não vejo nenhum olhar repressivo. No luxo ou no lixo. Muito pelo contrário, acho que ninguém perde tempo reparando nessas coisas...Me distraio com a morena de ancas generosas que sobe a ladeira do Pelô, olho o casario para tentar imaginar qual seria o casarão do trapiche que inspirou o mestre e me divirto com a oratória brilhante da gente no Boteco do França, no Rio Vermelho.

Salvador e a Bahia deram ao país muita coisa. Cultura, entendida na maneira mais ampla, como conjunto de nossas tradições, representações, crenças, símbolos e maneira de ver o mundo.

Desde sexta-feira estou pela Boa Terra. A temporada vai terminando. Salvador pega fogo. O Bahia subindo pra primeira, o Vitória na corda bamba. Em breve vou ter o imenso prazer de compartilhar com o amigo fã do esporte e parceiro nessa trincheira tudo que ando vendo por aqui, em um especial sobre a subida do Bahia, o dia D da subida, os dias que se seguiram...E isso tudo é muito mais do que 90 minutos de futebol. Na Bahia então, isso é fé, religião, festa, botequim, igreja, sagrado e profano ombro a ombro.

Mas os dias soteropolitanos me deram muito mais do que isso. Foi quase uma volta nostálgica a algumas coisas esquecidas que vão se perdendo em outras partes. Um romantismo nas arquibancadas que não volta mais em outras partes.

Um estádio e a experiência de acompanhar o torcedor em Salvador ainda é muito diferente do que é praticado no eixo Rio/São Paulo. A começar pela violência nas arquibancadas, muito menor. Passando por uma criatividade que vai se perdendo cada vez mais em outras praças. A torcida na Bahia é uma usina de ideias, criatividade. Músicas novas a cada jogo, dezenas de cantos dos mais criativos, ritmos. Fé, reza, tudo junto num caldeirão de diversidades e pluralidade incomparável.

Como já foi em outras praças, mas, como disse, vai se perdendo na pausteurização e na adesão barata a algumas campanhas tolas e inacreditavelmente piegas como a tal “campanha do torcer sem palavrão”, idealizada por algum janotinha que nunca foi a uma arquibancada, desconhecendo que até o palavrão é um rito de passagem nas arquibancadas entre pais e filhos. (Vale o parêntesis: ainda salvos do politicamente correto, lá pelas tantas sobrou até para Ivete Sangalo, torcedora do Vitória, quando o Bahia fechou a conta do placar. Hilário, impossível conter o riso!).

Voltando a bizarra “campanha do palavrão”, muitos aderiram e ficaram inventando musiquinhas chatinhas como a que foi feita em cima dos não menos chatos “Mamonas Assassinos”, que Deus os tenha. Dando força a tentativa de se transformar estádios em entidades assépticas e frias. A tal higienização do futebol que sempre falo.


E por falar nela, chegamos a outro ponto. O mais fantástico de um jogo na Bahia e o que mais me encantou e chamou atenção é que, por enquanto, a tal higienização ainda não destroçou o futebol e os estádios. Arquibancada na Bahia é lugar de desdentado, de preto, de povo, de branco, amarelo, azul, de quem mais chegar. Por isso a alma de uma festa ainda diferente. Mas que ninguém se iluda: a higienização, um plano cuidadosamente arquitetado de cima pelos nossos cartolas e burocratas do futebol, que matarão a galinha dos ovos de ouro mas não tão nem aí pra isso, vai chegar ao futebol baiano.

Caminha a passos largos. A Copa do Mundo de 2014 será o auge e a celebração desse processo. Em breve também não veremos em Salvador mais o desdentado, o crioulo que guardou dinheiro a semana inteira pra levar o filho. Como no Rio e em São Paulo, o estádio será cada vez mais arena fria, quase uma boate para deleite da elite. Um “point” de encontro antes da saída para a noite.

Conversei para o tal especial com o antropólogo da UFBA, Jefferson Bacelar, com notável trabalho sobre esporte e classes sociais na Bahia. Me conta que o advento do Barradão, arena menor e afastada, já foi um tiro no povo que ia aos jogos do Vitória. A elitização começou ali. E que Pituaçu tenta o mesmo caminho para o tricolor. Processo que será completo com metade da capacidade da Fonte Nova extirpada e o povão barrado pelos caros ingressos.

Aquela festa banguela da Fonte Nova ficará para trás. Até porque, quando ela voltar, voltará arena asséptica como querem nossos dirigente$$ e cartola$$. E o povo terá que amar seu futebol de longe. Na terra onde Castro Alves proclamou que a praça era do povo, o estádio será da elite.

Sei que muitos irão alegar que é a modernidade. Não sou dos nostálgicos que nada gostam nas coisas de hoje. Pelo contrário. Dentro de campo, ao contrário de muitos, adoro cada vez mais o futebol. Mas fora, se querem saber, acho que vai caminhando para algo insuportável. Até o dia que os tecnocratas descobrirem que sem o povo que tanto odeiam, achando que basta transformar paixão em consumo, o futebol morre.

Que todos os Orixás da Bahia apontem suas lanças. Que a terra que nos deu algumas das mais belas páginas de nossa história,os conjurados/alfaiates, malês, sabinada e tantas revoltas santas e sagradas, que essa terra resista. Que a Bahia que tocou tambores de resistência e mais do que ninguém proclamou o orgulho de que éramos muito mais África em nossa maneira de ser do que Europa e Estados Unidos seja farol dessa resistência.

Para que também nos estádios optemos por ser esse caldeirão de misturas, que o cecê da África como dizia Darcy Ribeiro se pronuncie nas nossas arquibancadas. Que não podem se transformar num cemitério de comedores de hambúrguer e consumidores no lugar do apaixonado torcedor. Que Deus e todos os Orixás abençoem a Bahia em mais essa resistência.



sábado, 20 de novembro de 2010

Vamos que vamos!

Em breve o blog estará repleto de textos e notícias referentes à ANT nacional e local.

No entanto, você já pode entrar em contato com a ANT-BA caso tenha interesse em construir junto com a gente.


A ANT não tem dono! Todos estão mais do que convidados a construir junto conosco, principalmente porque ainda estamos nos primeiros passos da nossa luta!

Segue abaixo dois contatos para diálogo!

Irlan - irlan.simoes@hotmail.com
Danilo Pepi - danilo_baea@hotmail.com



Já somos cerca de 15 torcedores, e crescemos a cada dia!



JUNTE-SE À ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS TORCEDORES!